Teve início ontem à tarde o segmento de alto nível da CoP-16, com a presença de ministros e alguns chefes de Estado e também do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. A baixa expectativa em torno da reunião pode ser notada até no discurso de Moon. Se até o fim de 2009, ele dizia que o acordo tinha que ser selado na CoP-15 (o que me fez apelidá-lo carinhosamente de Ban “Seal the Deal” Ki-moon), aqui ele disse que nossa jornada não termina no México, mas que em Cancún temos que avançar, que estamos correndo uma maratona, não uma prova de velocidade.

Ban Ki-moon discursando na abertura do segmento de alto-nível

Abaixo um trecho de seu pronunciamento sobre o que deve sair da CoP-16.

Progresso tangível é possível aqui em Cancún.

O mundo está olhando para vocês para adotarem um conjunto equilibrado de resultados.

Nós não precisamos de um acordo final sobre todas as questões. Mas nós precisamos de progresso em todas as frentes.

Não podemos deixar que o perfeito seja inimigo do bom.

Vocês podem tomar decisões importantes aqui em Cancún sobre florestas, adaptação, tecnologia e na criação de um novo fundo climático para o financiamento de longo prazo.

Vocês também precisam avançar na mitigação, ancorando seus compromissos nacionais, na prestação de contas e de transparência e de clareza sobre o futuro do Protocolo de Quioto.

Finalmente, as partes precisam concordar sobre como - e quando - avançar depois de Cancún sobre questões ainda em discussão.

O presidente do México, Felipe Calderón, acredita que com a vontade política de todos nos últimos dias poderemos conseguir bons acordos e lembrou que, como anfitriões da CoP, buscaram criar um ambiente inclusivo, transparente, ouvindo todos os países, sem distinção nem pesos diferentes. Disse ainda que a grande conquista de Cancún será a retomada do multilateralismo. Logo depois, alguns chefes de Estado presentes fizeram pronunciamentos lembrando a todos da urgência em se obter um acordo. Para citar dois casos, o presidente da Guatemala mencionou as chuvas que atingiram o país por mais de cem dias e causaram um prejuízo de cerca de 1/4 do seu PIB anual. Já o presidente do Palau disse que o oceano que os sustenta ameaça engoli-los, mas que sozinho ele não tem como fazer nada, por isso viajou de tão longe para demandar uma ação coletiva.

Felipe Calderón na abertura do segmento de alto-nível

De acordo com a programação oficial, a ministra do meio ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, fará seu discurso no segmento de alto-nível amanhã à tarde (é a sexta a falar entre 15h e 19h). Voltando às negociações, como eu disse na segunda-feira, o Brasil e o Reino Unido foram incumbidos pela presidente da CoP-16, Patricia Espinosa, de resolver o impasse do Protocolo de Quioto com o Japão e outros países (Rússia e Canadá). A ministra Izabella disse ontem, sem entrar em muitos detalhes, que as negociações estão difíceis, mas que em conjunto com o Reino Unido estão se esforçando para conseguir bons resultados até sexta-feira. Disse que em todas as consultas que fizeram nos últimos dois dias, encontraram vontade política dos países em prosseguirem para o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto.

O embaixador Figueiredo, negociad0r-chefe do Brasil, disse que o último objetivo das negociações é a produção de um instrumento legalmente vinculante, mas que o Brasil só é a favor desse documento se houver substância como resultado das negociações.

O que seria essa substância? Na segunda-feira, em coletiva de imprensa, os ministros dos países do BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) falaram que qualquer resultado ambicioso em Cancún deve ser construído sobre um acordo sobre o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto e os compromissos comparáveis de países do Anexo I que não fazem parte de Quioto (EUA); no desembolso imediato de financiamento de início rápido (fast start finance) em forma de recursos novos e adicionais por meio de mecanismos de supervisão multilateral e o reconhecimento da importância de um diálogo contínuo sobre questões de direitos de propriedade intelectual como parte do desenvolvimento e transferência de tecnologia.

Versão do BASIC do "Adopt a negotiator"

Todos esses pontos permanecem indefinidos nas negociações. Como disse Ban Ki-moon estamos correndo uma maratona e as mudanças climáticas não foram criadas da noite para o dia, nem serão resolvidas rapidamente, mas fico pensando em que quilômetro dessa prova estamos e a qual velocidade. Até agora, ninguém está na frente porque essa maratona não envolve competição, mas cooperação. No entanto, os seus participantes parecem não ter conhecimento dessas regras.

P.S.: Lembro também que ontem houve a tentativa felizmente frustrada dos ruralistas de votar com urgência as alterações do Código Florestal no Congresso, o que gerou uma intensa mobilização da sociedade civil tanto em Brasília quanto aqui em Cancún, resultando na publicação de um artigo sobre o assunto no influente boletim ECO produzido pela Climate Action Network (CAN) hoje.

  • Andrea Arzaba

    Me encanta su versión “básica” jajaja :D

  • Cdruss

    haja “preparo fisico ” e mental para esta maratona de corredores sem preparo e “dopados” espero que em algum ponto do percurso seja feito um exame anti doping e só fiquem os verdadeiros atletas………
    muito bom seu artigo

  • Cdruss

    haja “preparo fisico ” e mental para esta maratona de corredores sem preparo e “dopados” espero que em algum ponto do percurso seja feito um exame anti doping e só fiquem os verdadeiros atletas………
    muito bom seu artigo

  • Cdruss

    haja “preparo fisico ” e mental para esta maratona de corredores sem preparo e “dopados” espero que em algum ponto do percurso seja feito um exame anti doping e só fiquem os verdadeiros atletas………
    muito bom seu artigo

  • http://globalvoicesonline.org/2010/12/15/brazil-key-player-at-cop-16-but-bad-example-at-home/ Brazil: Key player at COP 16 but bad example at home? · Global Voices

    [...] as Juliana Russar, a Brazilian Negotiator Tracker from Global Campaign for Climate Action at COP 16 registered on her blog [pt]: P.S.: Lembro também que ontem houve a tentativa felizmente frustrada dos ruralistas de votar [...]

  • http://pt.globalvoicesonline.org/2010/12/27/brasil-peca-chave-na-cop-16-e-mau-exemplo-em-casa/ Brasil: peça-chave na COP 16 e mau exemplo em casa? · Global Voices

    [...] da Global Campaign for Climate Action [en] [Campanha Global pela Ação Climática] na COP 16, registrou em seu blog: P.S.: Lembro também que ontem houve a tentativa felizmente frustrada dos ruralistas de votar com [...]

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