800 pessoas abandonam a COP19 em protesto aos (não) resultados da negociação

Esta quinta-feira foi um dia histórico para a sociedade civil mundial na luta por justiça climática. Pela primeira vez, 800 pessoas se uniram numa Conferência do Clima a fim de demonstrar a enorme insatisfação acerca da falta de compromissos dos negociadores para chegar a um acordo justo, ambicioso e obrigatório.

A demonstração de união de todas as vozes podia ser sentida, e emocionada, através do coro “we shall overcome, again and again”, repetido diversas vezes pelas pessoas vestidas de branco e indignadas, usando a frase “polluters talk, we walk” colada no corpo com a hashtag #volveremos em referência à COP20, que acontecerá em Lima, no ano que vem.

walk out

 

A emoção de fazer parte disso é indescritível. Apesar de a frustração com os resultados oficiais da COP19 ser indubitável, quando alguém disser que não avançaram as negociações, podemos dizer que está avançando sim a organização da sociedade civil global com o objetivo de influenciar decisivamente os resultados dentro da conferência.

Ao encontrar Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace, do lado de fora do estádio, tive a oportunidade de perguntar se ele sentia que isso era uma desistência. Kumi rapidamente respondeu:

“Não, isso não foi desistir, mas elevar a outro patamar. Se não vamos ter nenhum resultado desta COP, precisamos de pessoas em todos os países do mundo colocando pressão em seu líderes para que venham a estas COPs com um mandato realmente forte, em se tratando de cortar emissões de carbono, ajudar países mais pobres a se adaptarem e não seguirem os mesmo caminho de energia suja que seguiram os países desenvolvidos para construir suas economias. O que está acontecendo não é apenas uma traição às futuras gerações, porque, sejamos claros, as pessoas negociando aqui não serão as que terão que lidar com os impactos climáticos, e sim nossos filhos e netos.

Kumi

 

Portanto, essencialmente, o que estamos pressionando por são 2 mensagens: uma para os negociadores agirem juntos, não podemos continuar neste caminho, precisam entender que a natureza não negocia, para pararem de jogar poker político com o futuro do planeta e pensarem que podem mudar a ciência - ninguém pode mudar a ciência, precisamos é mudar a forma como a política está sendo feita. A segunda mensagem é para o público em geral, dizendo que estamos aqui, viemos ano após ano, estamos tentando o melhor que podemos, mas nosso melhor não tem sido entregue e que, na verdade, parte do problema foi esta COP.

E este é um posicionamento sobre esta COP, não é um ataque à ONU, porque a UNFCCC pode fazer o seu melhor, mas se os países que estão negociando vem para cá com níveis tão baixos de ambição, não teremos progresso. Por isso é uma mensagem para as pessoas se mobilizarem, e como sempre digo, as pessoas são mães e pais, e essa luta é por nossos filhos e netos. É um chamado para que nossos negociadores acordem e um apelo para as pessoas ao redor do mundo - você precisa se envolver, não podemos ficar focados só aqui, se eles não se sentirem pressionados, se eles não sentirem resistência em cada um dos países, não chegaremos muito longe.”

Fica a dica para aqueles que se sentem parte deste chamado e querem se envolver com o tema das mudanças climáticas e pressionar nosso país para que seja mais ambicioso nas próximas COPs. O Engajamundo (www.engajamundo.org) é apenas um dos espaços que está sendo criado para isso, assim como o Clímax Brasil (www.climaxbr.org) - esperamos ver cada vez mais jovens envolvidos com estes processos no Brasil!

Em breve comentário nos corredores, o Embaixador Raphael Lopes de Azeredo entende as razões pelas quais a sociedade civil global tomou esta decisão, mas sente falta da pressão exercida por ela dentro das negociações. “São vocês que pressionam os países que bloqueiam as negociações. Sem vocês aqui, fica ainda mais fácil para eles tomarem a liberdade de fazerem o que bem entendem”.

Cabe a nós, como bem disse o Kumi exercermos a tal pressão durante todo o ano para que, em Lima, os países cheguem à conferência com ambição muito maior e não tenhamos que abandonar as negociações em demonstração de tamanha indignação como estamos nos sentido agora, em Varsóvia.

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Posicionamento da sociedade civil global na íntegra:

Enough is enough.

We have said we stand in solidarity with the millions impacted by Typhoon Haiyan, and with all climate impacted people. Our solidarity compels us to tell the truth about COP 19 – the Warsaw Climate Conference.

The Warsaw Climate Conference, which should have been an important step in the just transition to a sustainable future, is on track to deliver virtually nothing. In fact, the actions of many rich countries here in Warsaw are directly undermining the UNFCCC itself, which is an important multilateral process that must succeed if we are to fix the global climate crisis.

The Warsaw Conference has put the interests of dirty energy industries over that of global citizens – with a “Coal & Climate Summit” being held in conjunction; corporate sponsorship from big polluters plastered all over the venue; and a Presidency (Poland) that is beholden to the coal and fracking industry. When Japan announced that it was following Canada and backtracking on emission cut commitments previously made, and Australia gave multiple signals that it was utterly unwilling to take the UN climate process seriously, the integrity of the talks was further jeopardized.

This week saw a “finance ministerial” with almost no actual finance, and loss and damage talks that have stalled because rich countries refuse to engage on the substance of an international mechanism. Warsaw has not seen any increase in emission reductions nor increased support for adaptation before 2020 – on these things it has actually taken us backward. And a clear pathway to a comprehensive and fair agreement in Paris 2015 is missing.

We as civil society are ready to engage with ministers and delegations who actually come to negotiate in good faith. But at the Warsaw Conference, rich country governments have come with nothing to offer. Many developing country governments are also struggling and failing to stand up for the needs and rights of their people. It is clear that if countries continue acting in this way, the next two days of negotiations will not deliver the climate action the world so desperately needs.

Therefore, organizations and movements representing people from every corner of the Earth have decided that the best use of our time is to voluntarily withdraw from the Warsaw climate talks. Instead, we are now focusing on mobilizing people to push our governments to take leadership for serious climate action. We will work to transform our food and energy systems at a national and global level and rebuild a broken economic system to create a sustainable and low-carbon economy with decent jobs and livelihoods for all. And we will put pressure on everyone to do more to realize this vision.

Coming out of the Warsaw Climate Conference, it is clear that without such pressure, our governments cannot be trusted to do what the world needs. We will return with the voice of the people in Lima to hold our governments accountable to the vision of a sustainable and just future.

ORGANISATIONS AND SOCIAL MOVEMENTS ASSOCIATED WITH THIS STATEMENT:
Aksyon Klima Pilipinas
ActionAid
Bolivian Platform on Climate Change
Construyendo Puentes (Latin America)
Friends of the Earth (Europe)
Greenpeace
Ibon International
International Trade Union Confederation
LDC Watch
Oxfam International
Pan African Climate Justice Alliance
Peoples’ Movement on Climate Change (Philippines)
WWF

walkout

  • Anonymous

    Lindo, raque!