E o dinheiro? Ninguém sabe, ninguém viu
Se me pedissem para resumir em uma palavra o que impede as negociações de irem para frente neste sábado, eu diria: finanças. É o tópico em torno do qual giram, de uma forma ou de outra, todos os impasses. É, em verdade, a principal questão desde a Revolução Industrial. É a principal causa das guerras, do aquecimento global, da ambição humana (ou, em alguns casos, a falta dela).
Na COP, a discussão sobre finança pode significar muitas coisas: ajuda financeira a países em desenvolvimento para adapatação e mitigação dos impactos das mudanças do clima, compensação por perdas e danos, financiamento para projetos de redução de emissões por desmatamento, incentivo a projetos sustentáveis e eficiência energética, ou investimento em tecnologias.
Na fracassada conferência de Copenhague, em 2009, os países desenvolvidos concordaram em estabelecer um Fundo Climático para canalizar ajuda financeira para fins de mitigação e adaptação. A promessa inicial era mobilizar U$100 bilhões por ano até 2020, além de mais U$30 bilhões num programa de curto-prazo de 2010 a 2012. Três anos depois, ainda restam dúvidas de quanto desse montante foi efetivamente materializado, e quanto virá de fato no período de 2012 até 2019.
Até o momento, as únicas nações a anunciar compromissos financeiros para o próximo ano foram Alemanha (U$2,35 billhões) França (U$2,6 bilhões), Suécia (U$400 milhões) e Reino Unido (U$2,9 bilhões). Dado que estamos agora nas horas finais da conferência, não é esperado que mais ninguém assuma compromissos financeiros.
Ainda longe dos U$60 bilhões propostos inicialmente para o período de 2013-2015, o texto sobre finanças está empacado no financiamento de curto-prazo, que seria uma fonte de recursos para ações urgentes em países como as pequenas ilhas (OASIS).
Mesmo não sendo totalmente satisfatório, o conteúdo apresentado traz a intenção de dar continuidade ao Programa de Trabalho sobre financiamento de longo prazo em 2013. Os países insulares, no entanto, sentem a forte e constante ameaça das mudanças climáticas em suas populações e seus territórios, o que faz o investimento em ações de curto prazo ser imprescindível.
Até a tarde desse sábado, eles têm se mantido firmes na posição de recuar e não aceitar o texto caso os Estados Unidos, principal alvo de cobrança, não se comprometam a colocar o dinheiro na mesa. Essa, aliás, foi uma das promessas de campanha do recém-reeleito presidente Barack Obama. Mas pelo visto seus representantes nas negociações climáticas não têm feito cumprir o seu discurso.
Bem humorado, o presidente da COP-18, Abdullah bin Hamad al Attiyah, traz um alento àqueles que permanecem aqui no centro de conferência de Doha desde a madrugada de ontem, esperando alguma resolução.
Eu não pretendo reabrir a caixa de Pandora novamente, porque nós nunca vamos conseguir fechá-la. Nós não teremos um texto que satisfaça a todos. Se vocês tiverem, me mostrem, porque eu não conheço. Nós já viramos uma grande família aqui, pois tenho vistos mais vocês do que meus filhos, mas não pretendo extender essa conferência por mais um dia. Eu peço que as Partes aqui presentes ajudem o presidente aceitando o que nós temos para oferecer.
E agora, José?




About the author
Nathalia ClarkBrazilian by birth, a journalist by formation, a literature lover by passion. A social ecologist by sense of justice. An activist for the climate and the forests by necessity of life. Always a student. Thinking about a better world, pursuing the only future possible.