Brasil! Mostra tua cara. Quero ver quem paga. Prá gente ficar assim. Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim…
Atualmente a sexta maior economia do mundo, o Brasil ocupa um lugar de destaque no cenário político e econômico internacional. A delegação brasileira costuma ter destaque também nas negociações climáticas. Nesta COP, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo foi convocado, junto com o negociador-chefe da Noruega, a liderar as discussões e tentar achar resoluções para as principais questões ainda pendentes no debate sobre o segundo período do Protocolo de Kyoto. Aparentemente, eles estão fazendo isso A QUALQUER CUSTO.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, falou hoje em sessão plenária do high level que o principal objetivo brasileiro em Doha é conseguir a extensão de Kyoto. Com a desculpa de “salvar” o único tratado internacional que impõe compromissos para redução de emissões, o Brasil apresentou hoje alternativas bastante flexíveis para os países que querem entrar na segunda fase. O nó continua no mesmo lugar: nos hot air e em como Rússia, Ucrânia e Polônia vão poder comprar e vender créditos de carbono.
O texto ainda está em discussão a portas fechadas e só deve ser apresentado por volta de meia noite de hoje, mas a atmosfera já não cheira bem desde o começo da tarde. Segundo o embaixador André Corrêa do Lago, neste exato momento o Brasil está tentando negociar com os países do G77, que estão resistentes à proposta.
Mas se o G77 não é favorável ao acordo, de que lado está o Brasil, então?
O G77 é formado por 133 nações em desenvolvimento, já o BASIC, outro grupo negociador do qual o Brasil faz parte, inclui África do Sul, China e Índia e foi formado para elaborar propostas concretas relacionadas às mudanças climáticas. Os países do BASIC também fazem parte do G77. Assim, podemos concluir que o Brasil tem seus principais aliados contrários à nova proposta para resolução sobre a extensão do Protocolo.
Em coletiva de imprensa na última terça-feira, o embaixador Figueiredo foi bastante gentil ao informar que teve um jantar de negócios com delegados norte-americanos. Só não ficou muito claro quais negócios eles foram discutir. Os Estados Unidos não movem um dedo sequer para entrar com compromissos em Kyoto, nem dão indicação concreta de que farão isso tão cedo. E agora o que se vê concretamente é o Brasil pendendo para o lado das nações desenvolvidas do antigo bloco comunista.
A manutenção de Kyoto é considerada essencial pelos países do BASIC por ele servir de referência para um novo tratado climático que tem de ser estabelecido até 2015. O tratado não é o melhor dos mundos, mas é o único existente, mesmo não sendo cumprido por boa parte de seus signatários. Se o que já não é tão bom for ainda mais enfraquecido, de que vale garantir a sua continuidade? Se o Brasil continuar seu lobby a favor dos poluidores, a única garantia de metas de redução de emissões pode ser reduzida a um protocolo moribundo.
Enquanto Kyoto arrefece, Cazuza revive. E volta a velha máxima: “Brasil, mostra a tua cara!”
Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Prá gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim…
Brasil! Mostra tua cara. Quero ver quem paga. Prá gente ficar assim. Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim…
Read post →Depois de uma semana e meia de conferência, não restam dúvidas de que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) é um sistema falido.
Depois de uma semana e meia de conferência, não restam dúvidas de que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) é um sistema falido. Alguns negociadores falam abertamente sobre a diferença entre o mundo real e o “mundo das regras”, que é o que acontece dentro das salas do centro de conferência, e de onde não sai muita coisa. Aqui, tudo parece apenas jogo de cena.
Os atores desse jogo sabem exatamente o que se passa em cada país no que concerne ao cumprimento de suas metas. Quando a Rússia e a Ucrânia demonstram interesse em se comprometer com um segundo período do Protocolo de Kyoto, os negociadores sabem que é mais uma manobra especulativa. Mesmo apresentando metas, eles não pretendem efetivamente reduzir suas emissões, mas utilizar seu “bônus” coquistado durante o primeiro perído de compromisso – conhecido como hot air – como crédito de carbono.
Mas o hot air desses países é imenso, pois representam uma fase em que suas economias decaíram, entre 1990 e 2005, e consequentemente também as suas emissões. A economia ruiu, pois era extremamente ineficiente e poluente, com indústrias operando em condições ultrapassadas. Não significa, portanto, um mérito por mudança de modelo econômico, mas um resultado da queda do bloco soviético e do Muro de Berlim. A Rússia, por exemplo, tem hot air equivalente às emissões dos Estados Unidos em um ano; ou seja, 17 toneladas de gás carbônico por habitante.
O problema, sobre o qual os países do G77, que inclui o Brasil, são contra, é que não só eles querem usar isso como um tipo de cumprimento das metas obrigatórias para a segunda fase, mas também lucrar com o que sobrará desse “crédito”. A questão é que até 1990 eles emitiram exageradamente e isso não pode ser desconsiderado. Além disso, hoje as emissões desses países tendem a voltar a crescer.
Outro ponto importante em discussão é a transferência de emissões, que é o caso dos Estados Unidos e União Europeia, que passaram a produzir manufaturas em países em desenvolvimento como China e Indonésia. Isso só mostra como os países divididos entre os eixos norte-sul estão claramente em conflito pela falta de igualdade, mas a diplomacia não deixa isso transparecer nos corredores ou nas mesas de negociação.
Caso a Rússia, Ucrânica ou Polônia consigam levar seus hot air para a segunda fase e num futuro utilizem isso no mercado de crédito, seria esperado que países contrários a essa atitude se manifestassem para mostrar que isso não pode valer como cumprimento de meta. Mas não, a prática funciona diferente. Como todos os países têm “rabo preso” em algum sentido, não vale a pena criticar, eles apenas sorriem uns para os outros, condescendentemente.
Escuta-se pelos corresdores que no mercado negro do carbono, a tonelada do gás custa 60 centavos de euro. Japão e Austrália já se mostraram interessados em comprar. Enquanto isso, não vemos nenhum dinheiro na mesa para financiar ações de adaptação e mitigação dos efeitos do aquecimento global em países pobres.
A propósito dos números, sabemos que há 17 mil pessoas atendendo à COP esse ano, liberando toneladas de gás carbono para a atmosfera com suas viagens aéreas. Sabemos que o governo do Qatar gastou 150 milhões de dólares para realizar esse evento. Sabemos que os Estados Unidos gastam o exagerado montante de 300 milhões de dólares por ano para bancar… bandas militares!
Sabemos também que só a Árvore de Natal da Lagoa, no Rio de Janeiro, custou 10 milhões de Reais ao Brasil, para iluminar as noites cariocas por cerca de três meses. Enquanto isso, estamos cientes de que pelo menos 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo são afetadas pela degradação do solo causada pelas mudanças climáticas. E aqui, até agora, apenas o Reino Unido ofereceu algum ínfimo recurso para o Fundo Verde do Clima.
A COP, portanto, não passa de uma negociação econômica, que não tem quase nada de ambiental. Acompanhar as reuniões e ver as maracutais acontecerem nos faz perceber que, enquanto no falso “mundo das regras” as assim chamadas autoridades brincam de Banco Imobiliário com notas virtuais de CO2 e fingem uns para os outros que não sabem o que se passa nos bastidores, no mundo real pessoas de carne e osso morrem por extrema pobreza, falta de infraestrutura e acesso a tecnologias. Mas podemos dizer sinceramente que elas morrem porque seus governos simplesmente não se importam.
Então nos perguntamos nós o que fazemos aqui? Estamos sendo feitos de palhaços.
Depois de uma semana e meia de conferência, não restam dúvidas de que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) é um sistema falido.
Read post →Chegou a segunda semana das negociações. E com ela o alto escalão das delegações, mais reuniões fechadas, maior distância entre as delegações e a sociedade, e o sentimento de impotência.
Chegou a tão esperada segunda semana de negociações. E com ela o alto escalão das delegações. O tempo urge e os ministros sentem a pressão ao retomar seus lugares de chefia. Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, chegou esta manhã, e o embaixador Luiz Alberto Figueiredo fez ontem a sua primeira aparição no centro de conferência. Seja na coletiva de imprensa, nos corredores ou via seus assessores, eles nunca dizem muita coisa. Mas o que não falam por palavras, falam por presença.
A postura dos negociadores do high level provoca dois efeitos em nós, meros “observadores”, como costuma classificar a terminologia da COP: o primeiro, uma excitação de que talvez as coisas comecem a entrar nos eixos, as reuniões sejam mais definidoras, mas também cada vez mais fechadas. O que me leva ao segundo ponto: sua presença, por outro lado, também é intimidante. É um claro sinal de que, ok, agora acabou a brincadeira.
Como “tracker” que acompanha a operação da delegação brasileira, sinto uma enorme distância e impotência frente a esses velhos leões da diplomacia. Trabalhando com política ambiental e climática há algum tempo, sei quais os principais desafios e limitações do nosso governo. Mas não importa o quanto eu ache que conheço o assunto, o que eu diga ou pergunte, eles vão sempre nos tratar como se não entendêssemos nada do que se passa.
Quando ouvi que Jonathan Pershing, o segundo da delegação dos Estados Unidos, havia dito, em reunião com os representantes da sociedade civil norte-americana, que eles só estavam ali pelo esforço do governo, desmerecendo qualquer trabalho independente das organizações, eu percebi que de fato esse mundo diplomático segue um mesmo padrão em qualquer país.
No terceiro ou quarto dia da conferência, André do Lago, então chefe da delegação brasileira, também convocou uma reunião com as organizações não governamentais para supostamente “debater” estratégias. Pareceu mais uma aula para jardim de infância, dado o tom ultra didático – quase de menosprezo – adotado na conversa.
Enquanto a COP usa a superficial inclusão da juventude nos debates climáticos como propaganda em seus discursos, o Itamaraty nem se preocupa com isso e esnoba essa reles jornalista iniciante que aqui vos fala. No ofense, seguimos em frente. Posso não conseguir a entrevista exclusiva que pedi com André, Figueiredo ou Izabella, mas isso não significa que eles se livraram de mim. Estarei seguindo seu rastro seja aqui ou de volta para casa.
No teatro das negociações eles podem reinar intangíveis, dizer aos quatro ventos que está tudo às mil maravilhas; que os problemas serão resolvidos e que os países estão alinhados na busca de um futuro melhor e menos poluído; que a China está fazendo um esforço enorme na área de energia limpa, engajada em combater as mudanças climática; ou que os Estados Unidos estão comprometidos com a redução de suas emissões. No drama tragicômico da conferência eles têm licença poética para falar o que quiserem, mas no palco do mundo real a banda não toca tão afinada assim.
Ok. Eles não fazem mágica, mas sabem tomar decisões. Ora, são treinados e pagos para isso. Se as decisões serão corretas ou não, aí é que o bicho pega. O embaixador Figueiredo diz que até sexta à noite tem de estar tudo resolvido, pois seu voo de volta já está marcado para o dia seguinte. Claro, ele deve ter coisas mais importantes para fazer do que ficar aqui tentando salvar o mundo. Com clima ou sem clima, nós, mortais, continuaremos acompanhando de perto para ver o fim (ou não) dessa história.
Chegou a segunda semana das negociações. E com ela o alto escalão das delegações, mais reuniões fechadas, maior distância entre as delegações e a sociedade, e o sentimento de impotência.
Read post →Hoje, primeiro de dezembro, foi um dia um tanto incomum. A começar pelo fato de vários jovens estarem acordando às 6h da manhã num sábado. Além disso, um fato histórico marcou o movimento climático global, especialmente para os países árabes.
Hoje, primeiro de dezembro, foi um dia um tanto incomum. A começar pelo fato de vários jovens estarem acordando às 6h da manhã num sábado. Além disso, um fato histórico marcou o movimento climático global, especialmente para os países árabes.
Cerca de 300 pessoas se reuniram na orla de Doha esta manhã para participar da primeria marcha do clima realizada em um país do Golfo Pérsico.
Aos gritos de “Líderes, uní-vos”e “Sua ação, nossa sobrevivência”, ativistas de países árabes como Qatar, Mauritânia, Marrocos, Jordânia, Líbia, Tunísia, Emirados Árabes, Palestina, Líbano, Iraque, Argélia, Sudão, Omã, Egito e Bahrein se juntaram para exigir medidas urgentes para reduzir as mudanças do clima.
Os ativistas pediram mais liderança, ambição e comprometimento por parte dos negociadores da 18a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-18).
A manifestação teve apoio de organizações regionais e internacionais, além de jovens que participaram da primavera árabe e agora estão organizados no recém-criado Movimento da Juventude Árabe pelo Clima.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também esteve presente representando os brasileiros imigrantes no país.
Hoje, primeiro de dezembro, foi um dia um tanto incomum. A começar pelo fato de vários jovens estarem acordando às 6h da manhã num sábado. Além disso, um fato histórico marcou o movimento climático global, especialmente para os países árabes.
Read post →Liderança feminina do povo indígena Guajajara, Sonia vijaou mais de 10 mil quilômetros de Imperatriz, no Maranhão, até Doha, no Qatar, para acompanhar as negociações da 18a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, a COP-18.
Liderança feminina do povo indígena Guajajara, Sonia viajou mais de 10 mil quilômetros de Imperatriz, no Maranhão, até Doha, no Qatar, para acompanhar as negociações da 18a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, a COP-18. Vice-presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ela representa um pedaço importante do Brasil nessa festa de culturas que é o centro de conferência.
Vestindo cocar Kayapó e artesanato Guajajara, Sonia reflete a mistura de etnias que forma o povo brasileiro. Ela viaja o mundo levando a voz dos povos indígenas, e acompanha as questões climáticas desde Compenhagen, em 2009. Em meio às companheiras muçulmanas, ela veio passar a mensagem de que os indígenas e seus territórios precisam ser respeitados, e que fazendo isso nós já ajudamos a cuidar do equilíbrio do clima.
No Brasil, o movimento indígena sofre fortes ataques por parte do Congresso Nacional, majoritariamente conservador e tomado por grandes representantes do agronegócio. Os mais de 230 povos indígenas do Brasil hoje somam, segundo o Censo do IBGE de 2010, 896.917 pessoas. Dentre suas muitas diferenças, eles se juntam para lutar por seu direito já adquirido, mas constantemente ameaçado por medidas de um governo que só pensa no crescimento econômico sem olhar para suas populações mais tradicionais.
O que isso tem a ver com mudanças climáticas? Sonia explica.
“Dizem que essas são coisas isoladas, mas se não temos garantia do nosso território, demarcado, protegido, se não temos condições para fazer a gestão desses territórios de modo sustentável, de nada adianta discutir propostas para reduzir as queimadas, o desmatamento ou as mudanças no clima. Todas essas políticas devem primar primeiro pelos direitos indígenas e humanos. Sem terra, os povos indígenas nao conseguem sobreviver ou resistir. A terra para nós é muito mais do que um bem. É sagrada e considerada como nossa Mãe. E para nós, mãe não se vende, não se destroi. Mãe se cuida, se preserva, se respeita”, concluiu.
Nesse vídeo, ela nos explica o que veio fazer em Doha e como os povos indígenas se inserem no contexto das negociações.
Liderança feminina do povo indígena Guajajara, Sonia vijaou mais de 10 mil quilômetros de Imperatriz, no Maranhão, até Doha, no Qatar, para acompanhar as negociações da 18a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, a COP-18.
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Nathalia ClarkBrazilian by birth, a journalist by formation, a literature lover by passion. A social ecologist by sense of justice. An activist for the climate and the forests by necessity of life. Always a student. Thinking about a better world, pursuing the only future possible.