Estamos de volta!!!
Posted on 08. Apr, 2010 by Juliana Russar in Brazil
Observação: O post ficou mais longo e mais pessoal do que esperava, mas prometo que será o único, já que o foco desse blog são as negociações e os negociadores. É nisso que dá ficar 4 meses sem escrever…
O projeto “Adote um negociador” está de volta após um necessário período de hibernação e recuperação (foi difícil digerir o que aconteceu em Copenhague…)! Para iniciar as atividades de 2010, eu e mais cinco integrantes do projeto (Anna Collins – Reino Unido; Andrea Cinquina – Itália; Florent Baarsch – França; Joanna Dafoe – Canadá; Joshua Wiese – Estados Unidos) estamos em Bonn, Alemanha, para acompanhar a retomada das negociações de clima da ONU em 2010. Mas antes de contar o que aconteceu desde a CoP-15 e expectativas para a reunião da Convenção do Clima em Bonn e para o restante do ano, vou falar um pouco sobre mim e apresentar o projeto.
Meu nome é Juliana Russar, sou paulistana, tenho 25 anos, sou formada em Relações Internacionais e fiz pós-graduação em meio ambiente. Desde 2007, acompanho as negociações internacionais sobre mudanças climáticas e também processos nacionais sobre o tema a partir da perspectiva da sociedade civil. Estive presente na CoP-13 (Bali, 2007), CoP-14 (Poznan, 2008) e, pelo “Adopt a negotiator”, na Bangkok Climate Change Talks (setembro/2009), Barcelona Climate Change Talks (novembro/2009) e na CoP-15 (Copenhague, dezembro de 2009). Sou apaixonada pelo tema desenvolvimento sustentável e também por política internacional. Além disso, adoro cinema, sou viciada em seriados norte-americanos (os do momento são Lost, Grey’s Anatomy e Ugly Betty), amo aprender idiomas, viajar e há pouco tempo comprei uma bicicleta para me aventurar por São Paulo (aos finais de semana, porque, infelizmente, sou muito desastrada para me locomover com uma bike em uma cidade sem nenhuma estrutura para tal).
A CoP-15 foi um marco e meio que encerrou um ciclo da minha (ainda) curtíssima carreira profissional. Explico: como já falei, as mudanças climáticas entraram na minha vida em 2007, ano da CoP-13, em Bali, onde foi lançada a rodada de negociações que teria que ser concluída na CoP-15, em dezembro de 2009, definindo os compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa dos países desenvolvidos para o período pós-2012 (quando termina o primeiro período de compromissos do Protocolo de Quioto) e as ações que os países em desenvolvimento, que atualmente respondem por uma significativa fatia no bolo das emissões globais, implementariam para reduzir sua contribuição ao aquecimento global.
Eu tinha acabado de me formar, não tinha nenhuma ideia do que queria fazer, sempre tive interesse pela temática ambiental, mas nada além disso. Matriculei-me em um curso de pós-graduação em meio ambiente e tive a grande oportunidade de trabalhar no Vitae Civilis, ONG ambientalista de São Paulo que trabalha há muitos anos com a questão climática, e foi lá que comecei a acompanhar as negociações internacionais sobre o assunto. Coloquei na minha cabeça que os 2 anos até a CoP-15 seriam um período experimental para ver se era isso mesmo que eu queria fazer da vida. Então foi isso, durante esse tempo, aprendi muito (mas ainda tem MUITO chão para eu virar uma expert em mudanças climáticas), trabalhei bastante, conheci pessoas do meio, entrei em contato com siglas maravilhosas como UNFCCC, PK, AWG, REDD, NAMAs, SBSTA, LDCs, AOSIS, CMP, CAN, MRV (não tem fim hahaha) e, claro, passei por algumas crises porque ingressar no mundo adulto, trabalhar no terceiro setor e lidar com um tema que exige uma profunda transformação de comportamento dos seres humanos e do modo de produção atual não é nada fácil. Numa dessas crises, saí do Vitae Civilis. Tive um tempo para pensar na vida e quando já estava quase certa de que era nessa área mesmo em que queria trabalhar, apesar de tudo, surgiu a oportunidade de participar do “Adote um negociador”.
Foi uma experiência tão enriquecedora que acabou confirmando minha opção pelas mudanças climáticas. Portanto, nesses dois anos, o mesmo tempo que tiveram os grandes emissores globais de gases de efeito estufa para negociarem com todos os países, assumir liderança e chegarem a um acordo justo, ambicioso e legalmente vinculante, amadureci e assumi uma posição, ao contrário deles, infelizmente. Confesso, no entanto, que não quero só me concentrar nas negociações, mas também em projetos locais – as duas abordagens (top-down e bottom-up) são complementares e essenciais. Calma! Não desisti dos nossos queridos negociadores e de participar do maravilhoso universo paralelo da UNFCCC que inclui no pacote muitas reuniões por dia, poucas horas de sono, refeições escassas, escutar inúmeras vezes o mesmo discurso, presenciar uma discussão de duas horas sobre a posição de uma vírgula no texto de negociação, corredores frios e sem luz natural, ter que se contentar com falas diplomáticas e oficiais que não dizem nada, sonhar que tenho discussões com o Obama sobre o comportamento dos Estados Unidos. Para não falar que só vejo o copo meio vazio, há também as pessoas envolvidas nas negociações. Acredito que a maioria está realmente comprometida em achar uma solução efetiva, assumir suas responsabilidades e liderar os esforços de enfrentamento das mudanças climáticas.
Mesmo depois da ressaca de Copenhague e de todas as restrições impostas às organizações não-governamentais, continuo acreditando que cada cidadão deste planeta tem o direito de saber o que os líderes mundiais estão negociando em nosso nome e como eles estão fazendo isso. “Não há decisões sobre nós, sem nós” (No decision about us, without us). Portanto, é fundamental a presença da sociedade civil nesse processo para dar transparência às negociações e também porque eles precisam ser lembrados em todos os momentos o real motivo da existência dessas reuniões que, de acordo com o Artigo 2 da Convenção do Clima é a “estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Esse nível deverá ser alcançado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável”. Se certos países, certas empresas, certos setores e certos indivíduos acharam que a sociedade civil sairia enfraquecida disso tudo é o momento de dizer que estão errados. Todo mundo só precisava descansar um pouco depois do ritmo louco e frenético do segundo semestre de 2009, quando todos os pensamentos e energias estavam concentrados em Copenhague.
É aí que entra o “Adote um negociador” (AAN) versão 2010. O projeto faz parte da Campanha Global de Ações pelo Clima (GCCA) e tem como objetivo compartilhar, principalmente por meio desse blog, as atividades, o desempenho e o comprometimento dos negociadores de países-chave na Convenção da ONU sobre clima. Inicialmente, o projeto estava planejado para durar até dezembro de 2009, em Copenhague, assim como a GCCA, mas como, por ausência de engajamento dos grandes emissores, o tratado justo, ambicioso e legalmente vinculante não foi acordado na CoP-15, decidiram continuar com o AAN. Ao longo de 2009, tivemos “negotiator trackers” de 13 países: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, Suécia, França, Espanha, Japão, Austrália, Brasil, Índia e China que acompanharam os trabalhos dos chefes de delegação de seu país. Em 2010, inicialmente, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Itália, França e, obviamente, Brasil estão representados no projeto.
Esse ano gostaria muito de ampliar a interação com os queridos leitores do blog e fazer as vozes do maior número de pessoas serem ouvidas pelos participantes desse universo paralelo chamado UNFCCC, principalmente os negociadores brasileiros, portanto, convido todos e todas a me enviarem perguntas para que eu possa fazê-las aos nossos representantes, dúvidas, compartilhar pensamentos e histórias (pessoais ou não) sobre mudanças climáticas que todos precisam saber. Lembro também que o conteúdo desse blog pode ser reproduzido livremente. O importante é espalhar a informação!
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http://www.oestadoce.com.br/ Pedro Paulo Rego
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Negotiator Tracker - Juliana Russar
Juliana mora em São Paulo e sempre foi apaixonada por pol�tica internacional e desenvolvimento. Não por acaso, ela se formou em Relações Internacionais e fez especialização em Meio Ambiente. Desde 2007, tem acompanhado as negociações internacionais sobre mudanças climáticas ... leia mais»
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