Ansiando por novidades e sanidade

Posted on 08. Oct, 2010 by Juliana Russar in Brazil

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Eu não sei vocês, mas hoje cheguei à conclusão de que não aguento mais ouvir falar em um “acordo justo, ambicioso e legalmente vinculante” (FAB Deal) como resultado das negociações de clima. Não porque eu não o defenda e não acredite em equidade, metas adequadas à proteção do clima e leis, mas esse termo, assim como “sustentabilidade” e “economia de baixo carbono” só fazem sentido quando deixam de ser palavras e tornam-se ações.

Nesse penúltimo dia de negociações em Tianjin, escuto as pessoas falando e tudo que eu consigo ouvir é “blá blá blá”. Acho que meu cérebro já ouviu tantas vezes os mesmos discursos, as mesmas palavras, as mesmas expressões, que entra em modo automático. De vez em quando, aparece um termo novo, que ele prontamente registra, como o “pacote equilibrado” (balanced package) que já comentei por aqui, e ICA. Essa última sigla ainda não descobri o que significa, mas sei que tem a ver com MRV. Às vezes me pego pensando ainda quando REDD passou a ser REDD+…Não sei quantas páginas todas as siglas existentes em torno desse processo de negociação ocupariam se alguém tentasse compilá-las. O aumento do número de siglas e termos técnicos a cada sessão mostra como esse processo todo é se torna cada vez mais complexo. Mas, enfim, meu post não é sobre isso.

Estava falando que cansei da repetição dos acontecimentos. Eu anseio por progressos reais, por acontecimentos verdadeiros, nada menos do que isso. Será que os países e seus respectivos negociadores não percebem o quão ridículo e, ao mesmo tempo preocupante, essas negociações estão se tornando? Será que alguém consegue se imaginar participando de uma CoP-25 com questões em aberto e continuar levando a Convenção de Clima (UNFCCC) a sério? Em junho, em Bonn, o WWF fez uma brincadeira sobre a lentidão das negociações que comentei nesse texto aqui.

Nessa sexta-feira, a questão continuou sendo a recusa do Brasil em deixar as discussões do grupo de contato sobre assuntos legais do AWG-KP avançarem - já falei sobre esse tema terça e ontem.

Ontem, conversei com o negociador brasileiro responsável pelo trilho do Protocolo de Quioto e ele disse que a posição de não discutir nenhum artigo além do 3.9 do Protocolo de Quioto nesse grupo de contato do AWG-KP não é somente uma posição do Brasil, mas do G-77+China. Ele disse que o Brasil não está bloqueando as discussões porque o mandato do AWG só diz respeito ao artigo 3.9 (segundo período de compromisso do Protocolo). O país aceita discutir os outros artigos na CMP, mas não no âmbito do AWG-KP.

Hoje, conversei com o negociador-chefe do Brasil e ele disse que o Brasil não vai deixar que uma discussão política aconteça dentro de um grupo técnico sobre discussões legais. O Brasil teme que a abertura de discussão sobre os outros artigos implique no questionamento dos países desenvolvidos sobre a existência de um segundo período de compromisso e do próprio Protocolo de Quioto.

Nenhum encontro do grupo foi programado para hoje. No entanto, à tarde, aconteceu uma plenária informal para o chair consultar os países sobre um “pacote equilibrado” de decisões para Cancún. Os assuntos que dominaram a plenária foram o bloqueio das discussões legais sobre o segundo período de compromisso e LULUCF. Nenhuma novidade por aqui também. Para encurtar a história: com exceção de alguns países, como a Noruega (sempre liderando) e Tuvalu (que espera mais sanidade desse processo), o mesmo discurso de sempre foi repetido. O Brasil, em conjunto com o G-77+China, continuou defendendo sua posição, demandando por liderança, ação e comprometimento coletivo com o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto.

Está claro que as expectativas para a CoP-16, que acontecerá daqui a menos de dois meses, não chegam nem perto das expectativas da CoP-15. Mesmo assim, e, apesar de não saber direito que pacote irei levar comigo de Cancún, continuo esperando por novidades (e por sanidade).

Tags: AWG-KP, Brasil, Brazil, climate change, climate negotiations, CoP-16, G77+China, KP, Kyoto Protocol, mudanças climáticas, negociações de clima, ONU, Protocolo de Quioto, Tianjin, Tianjin Climate Talks, UN, UNFCCC