Enxergando com outros olhos

Posted on 09. Oct, 2010 by Juliana Russar in Brazil

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Hoje é o último dia de negociações de clima da ONU antes da CoP-16, que acontecerá daqui a 7 semanas em Cancún, no México. Escrevo enquanto acontece a plenária de encerramento do AWG-KP, que começou por volta das 15h30. A plenária de encerramento do AWG-LCA começará assim que a primeira terminar e quem sabe quando isso vai acontecer? Ou seja, o dia será longo e o centro de convenção em Tianjin já está bem vazio (só os mais fortes resistem!). Infelizmente (ou felizmente?), não poderei ficar até o final da reunião, porque meu trem para Pequim parte às 20h30. Amanhã, eu e mais alguns colegas do Adopt a negotiator vamos conhecer a Muralha da China e aproveitaremos para participar da Global Work Party fazendo alguma ação por lá (ainda estamos pensando). O objetivo do dia 10/10/10 é mandar uma mensagem para os nossos políticos: “Nós estamos começando a trabalhar, e você?”*.

Essa mensagem é bem apropriada para esse momento de negociações porque, apesar de alguns declararem que a Convenção de Clima está moribunda, o problema não é o processo, mas sim a falta de vontade política de governos de diversos países que só pensam nos seus próprios interesses, deixando de lado o bem comum. O evento de amanhã mostrará que, apesar do comportamento conservador e egoísta dos seus governantes, as pessoas estão fazendo a sua parte .

Ontem escrevi falando que ansiava por novidade e sanidade. Precisava de motivação e de esperança. Precisava ouvir coisas boas e de uma dose de otimismo. Precisava de um ponto de vista diferente. Queria enxergar com outros olhos.

Hoje de manhã, participamos de uma conversa informal com a secretária-executiva da Convenção de Clima, a costa-riquenha Christiana Figueres, que ocupa o lugar, que antes era de Yvo de Boer, desde julho. Saí do encontro inspirada.

Achei Christiana muito feminina, bem humorada, aberta, extrovertida e positiva. Ela disse está otimista com a CoP-16 porque sairemos de Tianjin com um plano de trabalho, ao contrário do que aconteceu em Copenhague, quando os negociadores chegaram com uma lista de atividades impossíveis de serem cumpridas. Pelo menos agora, os países chegaram a um acordo do que precisam fazer e prepararam uma lista de tarefas que dá para ser cumprida.

Perguntamos para ela qual seria o melhor e o pior resultado da CoP-16. Ela respondeu que o melhor seria no primeiro dia todos os países assinarem um acordo e todo mundo ir para a praia e o pior seria perder mais duas semanas sem nenhum avanço concreto. No meio termo estaria um conjunto de decisões equilibrado (observação: equilíbrio é a palavra de semana) com arranjos institucionais tratando de adaptação, mitigação, REDD, capacity building, transferência de tecnologia e recursos financeiros. Ela destacou que aqui não ouviu nenhum país dizer que não quer um acordo legalmente vinculante. Cancún tem que estabelecer os pilares do regime para depois pensarmos como seguir adiante. A questão da existência de um ou dois acordos legalmente vinculantes ainda permanece em aberto.

Quando questionada sobre a possibilidade do governo mexicano aparecer com um texto, assim como fez a Dinamarca na CoP-15, Figueres disse que isso não vai acontecer porque o México se comprometeu a não fazer isso e também porque no ano passado não havia um texto possível de ser negociado, mas esse ano ele existe.

Ela disse que não nos dá permissão para ficarmos desacreditados com as negociações, principalmente com a idade que temos. Se ela, que acompanha o processo há quinze anos, não perdeu as esperanças, por que nós perderíamos?

Precisamos compreender que estamos passando por uma transformação nunca antes vista na história da humanidade e que não é possível os países absorverem essas mudanças rapidamente e muito menos chegar a um acordo sobre isso em um curto espaço de tempo. Ela observou que é muito difícil porque também as pessoas individualmente precisam absorver essa mudança e alterar seu comportamento. Ela mostrou que as luzes da sala de reunião estavam acesas, apesar de haver luz natural mais do que suficiente para iluminar a sala.

Bueno chicos, esse é meu último post direto de Tianjin. Nos vemos no:

Observação: Terminei de escrever esse texto às 18 horas e a plenária de encerramento do LCA ainda não tinha começado…

*Você também pode participar desse evento global que deve mobilizar centenas de milhares de pessoas em 188 países, procurando a ação mais próxima.

Tags: Christiana Figueres, climate change, climate negotiations, CoP-16, mudanças climáticas, negociações de clima, ONU, Tianjin, Tianjin Climate Talks, UN, UNFCCC