“Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”
Posted on 07. Dec, 2010 by Juliana Russar in Brazil
Hoje foi um dia daqueles, indo do Messe para o Moon Palace, do Moon Palace para o Messe. Explico: a CoP-16 acontece em dois lugares diferentes e levo cerca de 20 minutos de ônibus para ir de um para outro (sem contar a espera do ônibus). E, assim como os países nas negociações de clima tentam superar o fantasma de Copenhague, eu também faço um esforço para que isso aconteça. É tão difícil não fazer comparações sobre esse ano e a CoP-15. Um dos exemplos que posso dar é o meu nível de cansaço. Não consigo entender como passei 15 dias dormindo 3-4 horas por noite e aqui em Cancún isso é impensável. Será que me acostumei com tudo isso e meu corpo não libera mais adrenalina? Será que não me importo mais com o que acontece? Ou será que é difícil manter o interesse quando não há novidades?
Os negociadores merecem toda a minha admiração por trabalharem duas semanas seguidas com horários malucos, inclusive ontem, domingo, quando a presidente da CoP, Patricia Espinosa convocou uma sessão informal para definir a maneira como o processo será conduzido nessa segunda semana de negociações com a chegada dos ministros para o segmento de alto-nível. Foi na sessão de ontem que a Colômbia disse que os países têm que enfrentar o medo que tem do fantasma de Copenhague e deixá-lo para trás, já que a atuação do governo mexicano na condução do processo demonstra que essa questão foi superada.
Foi também nessa sessão que Espinosa disse:
Eu conversei com pares de ministros, um de um país em desenvolvimento e um de um país desenvolvido, que eu sei que incrementariam nosso esforço ao centrarem-se em questões específicas. Espero que suas agendas permitam-lhes realizar essa tarefa. Suécia e Granada poderiam ajudar em questões relacionadas com visão compartilhada, Espanha e Argélia em adaptação, Austrália e Bangladesh em finanças, tecnologia e capacitação; Nova Zelândia e Indonésia em mitigação, incluindo MRV, e o Reino Unido e o Brasil em itens relacionados ao Protocolo de Quioto. Outros ministros, entre eles os do Equador, Cingapura, Noruega e Suíça poderiam apoiar outras questões específicas que possam surgir.
Ou seja, o Brasil, ao lado do Reino Unido, recebeu uma responsabilidade e tanto, já que não devem ser nada fáceis as conversas com Japão, Rússia e Canadá que não desejam a continuação do Protocolo de Quioto, mas sim a construção de um novo acordo que abranja tanto países desenvolvidos quanto países em desenvolvimento. A evolução das conversas devem ser comunicados à presidente da CoP-16 até o final da terça-feira.
O Brasil simplesmente recebeu a tarefa de quebrar o maior impasse das negociações, o que reflete o prestígio e o papel ativo do país no âmbito da convenção de clima da ONU e no cenário internacional.
A senadora Marina Silva, também presente em Cancún, disse hoje que o Brasil não deveria compactuar com as baixas expectativas em torno da CoP-16, ainda mais quando as emissões continuam aumentando, e que o país não pode ter medo de assumir metas vinculantes de redução de gases de efeito estufa, já que tem condições para assumir esse compromisso. Ela acredita que o novo acordo de clima tem que abranger todos os países, de acordo com suas capacidades, logicamente, e que quem não quiser participar será constrangido eticamente. Marina também disse que não dá para ficar na água morna que está esquentando porque tem um sapo dormindo há dez anos, fazendo referência ao Estados Unidos.
É o que já venho dizendo há algum tempo nesse blog, mas agora coloco de outra maneira: o Brasil tem que aprender com a lição do Homem Aranha/Peter Parker e entender que com grandes poderes vem grandes responsabilidades.
-
Cdruss
-
http://twitter.com/jmlima joão joão
-
http://jrussar.wordpress.com/2010/12/07/%e2%80%9ccom-grandes-poderes-vem-grandes-responsabilidades%e2%80%9d/ “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” « Blog da Juliana Russar
Negotiator Tracker - Juliana Russar
Juliana mora em São Paulo e sempre foi apaixonada por pol�tica internacional e desenvolvimento. Não por acaso, ela se formou em Relações Internacionais e fez especialização em Meio Ambiente. Desde 2007, tem acompanhado as negociações internacionais sobre mudanças climáticas ... leia mais»
Read more of Juliana's posts here.
Follow Juliana on twitter @jrussar