Suspense e otimismo
Posted on 09. Dec, 2010 by Juliana Russar in Brazil
Ontem o dia começou com a tradicional reunião que o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) organiza todos os anos nas CoPs. Como já mencionei aqui no blog, o Fórum foi criado em 2000 pelo Decreto no. 3.515 visando conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas decorrentes das mudanças climáticas. É composto por vários ministérios, representantes de organizações não-governamentais, academia e setor privado, presidente da Câmara dos Deputados, presidente do Senado Federal, governadores de estados, prefeitos de capitais dos estados e é presidido pelo presidente da República, mas, geralmente, cabe ao secretário-executivo do fórum conduzir os encontros.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, estava presente na reunião do Fórum e, sobre as negociações, disse que havia ficado até as 2 da madrugada em reunião para tentar resolver a questão do Protocolo de Quioto e a recusa do Japão em aceitar um novo período de compromissos e sua continuação. Falou também que haviam entregado um relatório para a presidente da CoP-16, a ministra mexicana Patricia Espinosa, e que estavam aguardando novas instruções dela.
Em todas as ocasiões que vi a ministra falando aqui em Cancún ela sempre diz que não pode revelar detalhes do que está acontecendo porque não tem nada fechado e que seria leviano da parte dela tornar públicas informações que podem mudar a qualquer momento. Mas diz que as negociações têm boas perspectivas e que está otimista. Outro ponto que ela sempre lembra é que as negociações agora estão acontecendo em dois níveis: técnico e político.
No fim da tarde de quarta-feira, o Embaixador Figueiredo, negociador-chefe do Brasil chegou correndo e afobado na coletiva de imprensa porque havia saído do meio de uma sessão informal que estava coordenando. Disse que estamos em um momento crucial dessa CoP e que todos os países estão se esforçando para um bom resultado até sexta-feira, último dia da CoP-16. Ele parecia estar contente e, sorrindo, disse que está muito otimista e que se não fosse otimista não seria um negociador de mudanças climáticas. Sobre as negociações do Protocolo de Quioto, disse que estão explorando linguagem que possa resolver a questão.
Quando perguntado sobre o Código Florestal, disse que tinha conhecimento sobre o que estava acontecendo, mas que não ia comentar porque estavam trabalhando em Cancún de acordo com as instruções que receberam.
Como podem ver, eu escrevi, escrevi e escrevi e quase nada de conteúdo e nenhuma novidade. É difícil conversar com diplomatas! Quando querem, eles falam por muito tempo sem dizer nem revelar nada. Ontem foi um dia difícil de saber o que estava acontecendo por causa das negociações a portas fechadas, enquanto os chefes de estado e ministros discursavam para uma plateia escassa no segmento de alto nível apenas para cumprir o protocolo. Aliás, a ministra Izabella fará pronunciamento hoje entre as 15h-19h (é a sexta da fila).

Enquanto os negociadores se reuniam nas geladas salas do Moon Palace, os seres mortais circulavam entre o prédio Maya e Azteca em busca de informações
Ontem de manhã, foram publicados dois novos textos do AWG-LCA e AWG-KP, que a essa altura já devem estar ultrapassados, mas isso não significa que tenha havido muitos avanços, pois temas como LULUCF (os países desenvolvidos querem aprovar regras para a contabilização de emissões do setor de uso da terra, mudança de uso da terra e florestas de um jeito que permita que eles possam aumentar suas emissões ao invés de diminui-las) permanecem ameaçados. Ninguém espera que temas essenciais como metas de médio prazo de redução de emissões dos países desenvolvidos ejam resolvidos e anunciados aqui.
O prêmio Fóssil do Dia dá uma pista do que anda acontecendo nas negociações. Não é novidade e eu não aguento mais escrever isso (uma baleia morre toda vez que escrevo sobre isso…), mas ontem o Japão ganhou o primeiro lugar (de novo) por não ter mudado sua posição quanto ao Protocolo, o que ameaça toda a discussão sobre o futuro da Convenção de Clima (UNFCCC). Os Estados Unidos ficaram em segundo lugar por atrasar o estabelecimento de um Comitê de Adaptação, uma demanda dos países em desenvolvimento para aperfeiçoar a maneira como a convenção do clima lida com o tema. Os EUA exigem esclarecimento sobre as funções desse Comitê e pensa que é melhor que esse assunto seja tratado dentro do órgão técnico da UNFCCC, o SBSTA. No entanto, essa proposta já foi feita alguns anos atrás e foi rejeitada. Além disso, o tema de adaptação não pode ficar restrito a um órgão de aconselhamento técnico. Os EUA também receberam o terceiro lugar por causa da sua posição sobre transferência de tecnologia, um dos pilares da Convenção. Finalmente, existe uma proposta na mesa que é possível de ser trabalhada e todos são a favor de estabelecer um mecanismo aqui em Cancún. No entanto, os EUA disseram que os países devem apenas considerar o seu estabelecimento, o que diverge até com o Acordo de Copenhague, que defendem incondicionalmente.
É isso aí, pessoal. Hoje é o penúltimo dia de negociações. As pedras estão rolando ainda e o jogo só acaba quando termina. As negociações devem entrar pela madrugada. E, se a ministra e o embaixador andam otimistas e sorrindo por aí, vamos dar um voto de confiança nos nossos representantes e pensar que não há razão para pessimismo.
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Negotiator Tracker - Juliana Russar
Juliana mora em São Paulo e sempre foi apaixonada por pol�tica internacional e desenvolvimento. Não por acaso, ela se formou em Relações Internacionais e fez especialização em Meio Ambiente. Desde 2007, tem acompanhado as negociações internacionais sobre mudanças climáticas ... leia mais»
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