Está tudo sob controle? / Is everything under control?

Posted on 15. Dec, 2009 by Juliana Russar in Brazil

O dia hoje começou caótico do lado de fora do Bella Center, centro de conferência onde acontece a cúpula de clima da ONU (CoP-15), em Copenhague, na Dinamarca. Cheguei por volta das 8h30 e havia uma aglomeração de pessoas fora do normal. Após alguns minutos no meio da “muvuca” consegui passar pelos guardas que verificam quem tem crachá ou não. Do outro lado da cerca, mais fila: dessa vez, para passar pela inspeção de segurança. As únicas pessoas que têm direito à fila especial são os ministros e os funcionários da ONU. Se eu quisesse, podia enfrentar mais uma fila, mas faz alguns dias que desisti de pegar a fila gigante da chapelaria para não perder mais tempo.

Depois que entrei, fiquei sabendo que fecharam a estação de metrô “Bella Center” que fica bem em frente à entrada por causa do tumulto e que algumas pessoas tiveram que ficar horas no frio para conseguir entrar. O tracker italiano desistiu de entrar depois de ver a fila gigante que teria que enfrentar (veja vídeo aqui).

Enquanto parece que a situação do lado de fora está fora de controle, o que dizer do que está acontecendo aqui dentro?

Começou muito agitada a segunda semana de negociações da CoP-15. Mais pessoas, se isso é possível, chegam para participar da 15a. Conferência das Partes da Convenção de Clima. São pessoas que têm papel-chave nesse momento decisivo. A ministra Dilma Rousseff, responsável por chefiar a delegação brasileira, já está aqui, bem como o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc.

O grupo dos países africanos pararam as negociações nessa segunda-feira porque querem garantias de que o Protocolo de Quioto será mantido. Explico: países desenvolvidos defendem a criação de um único acordo que inclua e preveja compromissos para os Estados Unidos (que não ratificaram Quioto) e também para alguns países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China. Isso fere o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas e abre caminho para a flexibilização das obrigações dos países desenvolvidos. Os países africanos querem assegurar que as negociações mantenham os seus dois trilhos: a do aprofundamento dos compromissos dos países desenvolvidos no âmbito do Protocolo de Quioto e a de ações cooperativas de longo prazo, que prevê a adoção de medidas de adaptação e mitigação por países em desenvolvimento financiadas pelos países do Anexo I (desenvolvidos). Até agora, os países desenvolvidos não apresentaram nenhuma proposta ambiciosa de metas de redução de emissões para o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto, nem propostas consistentes de transferência de recursos financeiros para os países em desenvolvimento. O Brasil, dentro do Grupo dos 77 + China, deseja o avanço das negociações, mas não aceita negociar sem que a África esteja presente.

Essa atitude dos países africanos foi o pontapé inicial para o caos se instalar dentro do Bella Center também. Estava claro que ninguém sabia o que estava acontecendo. As pessoas trocavam informações entre si para tentar juntar as pecinhas desse complexo quebra-cabeça. Vi alguns negociadores brasileiros e outras pessoas, que costumam ficar trancadas dentro das salas acompanhando as negociações, almoçando tranquilamente, sinal de que tudo estava parado.

No final da tarde, as negociações foram retomadas, mas a sensação é de que tudo está fora do controle, desmoronando. No meio de toda essa bagunça, um coro de jovens cantava músicas natalinas! Lembrei-me muito daquela parte do filme Titanic, quando o barco está afundando e os músicos continuam tocando…

Tags: climate change, CoP-15, Copenhagen, Copenhague, mudanças climáticas, UNFCCC