Continuar a continuar
Posted on 20. Dec, 2009 by Juliana Russar in Brazil, bits
Por Adriana Charoux
Estar em Copenhague está sendo uma das experiências mais emocionantes da minha vida.
Apesar de toda a injustiça, apesar de toda barganha sacana dos líderes, da recusa dos países desenvolvidos em diminuir suas emissões de carbono, apesar do nível de arrogância e displicência norte-americana, a despeito da demora de decisões que, não sendo tomadas agora, ferrarão ainda mais a vida de quem menos contribuiu para essa encrenca ambiental em que nos metemos; apesar de ter conhecido gente que já perdeu familiares por causa de enchentes, que tiveram que mudar de seus países de origem porque eles simplesmente não existem mais, apesar dos ditos bonitos do Lula por aqui talvez não corresponderem à realidade do nosso amado país, apesar de dias mal dormidos, mal comidos, congelantes e angustiantes pela frustração que me são peculiares em momentos de alto stress e necessidade de velocidade ultrassônica de resposta.
Apesar de tudo isso, continuo acreditando que conseguimos juntos fazer algo muito incrível por aqui e que eu quero seguir fazendo parte disso.
Quero continuar conhecendo gente bacana e lutadora que mudou o rumo da sua própria vida tornando-a aquilo que queria que o mundo fosse, quero continuar sendo honrada e saudada com o grau de solidariedade de gente que me acolhe em sua própria casa tornando-a uma morada pra mim, de gente que me ajuda a pensar, escrever, refazer junto um texto, ceder uma escuta atenta, crítica e amorosa, repetir as mesmas informações que perdi, um bom prato de comida, uma grande porção de colo, um lenço pra enxugar as lágrimas e um abraço silencioso.
Quero, tendo a oportunidade de continuar fazendo algo que me faça sentido, que me faça sentir o sangue correndo nas veias, que me dê vontade de chorar de emoção, que, mesmo ao mostrar o tamanho da minha insignificância, me devolva a coragem de, a cada momento que achar que não tenho nada mais pra fazer, fazer mais alguma coisa.
Quero continuar acendendo velas, participando de fotos áreas nas quais ofereço meu corpo e e tocha acesa que seguro nas mãos para iluminar uma frase que compartilhei da elaboração, mesmo tendo sido em silêncio.
Quero continuar vindo a encontros nos quais aprendo muito mais do que sinto que tenho para colaborar, quero aprender com jeitos tão diferentes e melhores dos que os que eu tenho feito, descobrir também que nada é em vão e que estar aqui é um presente e um chamado que tenho que acatar porque quero, porque ainda que minhas ações sejam modestas, minha vontade de colaborar é imensa. Ainda que saiba pouco, agora já posso dizer que sei de alguma coisa.
Quero mesmo descobrir, por meio da tentativa e do erro bem próprios da eterna estreia de que o que eu quero mesmo sempre é continuar a continuar.
Alo Adriana. Sou um brasileiro de SP morando em Londres por 9 meses e presente agora em Amsterdam.
Bastante emocionante o que vc escreveu. Apesar dessa equação entre distância e contato com a memória, lugar natal e estrangeirações que uma viagem contém, piscou na minha cabeça o desejo de entrar em contato com as imediaticidades da COP, e num coffee shop dias ultimos me coloquei no you tube curioso com relacao ao discurso do nosso Presidente e tb com relacao ao andamento do congresso.
Deu uma vontade de integrar as movimentações e a conscientizacao. Consegui com as suas palavras respirar um pouco de ar puro (toxico) vindo diretamente de Copenhagen. Adoraria saber de como foi a tua experiencia se possível, especificamente com relacao a tua sensacao de terem feito coisas incriveis por aí.
Fiquei entusiasmado mesmo… pra não esquecer
abraço de calor pra eliminar o inverno!
Pedro
Brasileiro
beijão