Eleições, mudanças climáticas, coerência e prioridades
Posted on 03. Oct, 2010 by Juliana Russar in Brazil
Observação: antes de começar a ler esse post, saiba que deixei toda minha imparcialidade de lado. Se é que alguém consegue ser imparcial…
Enquanto ainda é domingo de manhã aí no Brasil e todo mundo está concentrado nas eleições, aqui, do outro lado do mundo, mais precisamente em Tianjin, China o dia está quase no fim. Mas o que estou fazendo aqui em um momento tão importante para o nosso país? É que amanhã, 4/10, começa mais uma rodada de negociações de clima da ONU (14a. sessão do AWG-KP, Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Novos Compromissos para Países do Anexo I do Protocolo de Quioto, e a 12a. sessão do AWG-LCA, Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Ação de Cooperação de Longo Prazo) que vai até sábado, dia 9/10. Essa é a última reunião antes da CoP-16, que acontecerá em Cancún, México, no final de novembro.
Antes de falar sobre o atual momento das negociações e, já que mencionei as eleições, não podia deixar de relembrar um momento inesquecível da então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff na CoP-15. Na ocasião, ela foi apontada como chefe da delegação brasileira e disse em um evento, com a presença de ministros da China, Índia e África do Sul e integrantes da delegação brasileira, que o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável. Com certeza, ela não quis falar isso, pelo menos para aquele público, naquele lugar. Foi um ato falho. Mas atos falhos não revelam os nossos pensamentos mais profundos que habitam o inconsciente?
Copenhague também serviu de palanque eleitoral para os outros dois principais candidatos brasileiros à presidência: Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) marcaram presença na já histórica 15a. Conferência das Partes. Apesar de toda a comitiva presente em Copenhague, infelizmente, as mudanças climáticas não ocupam o espaço merecido no programa dos candidatos (e, muito provável, nem na agenda de seus futuros governos), com exceção da candidata do PV. Dilma e Serra podem até falar sobre o tema, mas esse sempre será um assunto menor para eles, já que seus pensamentos permanecem estacionados nas primeiras décadas da segunda metade do século XX e não foram renovados para a realidade dinâmica e desafiadora do século XXI, que certamente exige um novo olhar sobre o Brasil e sobre o mundo.
Tudo indica que Dilma será eleita presidente do Brasil. Podemos esperar continuidade e melhoria nas políticas do governo Lula ou descaso completo com a área ambiental? Sei que o desempenho desse governo deixou muito (muito mesmo!) a desejar, mas não podemos esquecer que tivemos conquistas importantes nos últimos anos, como, por exemplo, a publicação do Plano Nacional sobre Mudança do Clima na CoP-14, a aprovação de uma lei que estabelece a Política Nacional sobre Mudança do Clima logo depois da CoP-15, a criação do Fundo Amazônia e a queda das taxas de desmatamento na Amazônia. Tenho muitas críticas sobre eles, principalmente sobre a real implementação do Plano e da Política Nacional sobre Mudança do Clima, mas, pelo menos agora temos instrumentos instituídos por lei para poder monitorar e pressionar a sua execução pelo governo. Por outro lado, sofremos algumas derrotas, as mais recentes são Belo Monte e as discussões sobre as mudanças no Código Florestal, que um presidente realmente preocupado com o tema poderia ter evitado, no primeiro caso, com uma avaliação mais cautelosa sobre o empreendimento, deixando de lado a fixação por obras e números grandiosos e, no segundo caso, mobilizando sua base aliada no Congresso. Continuará o Brasil sofrendo dessa esquizofrenia? Até quando? De que adianta dar um passo pra frente e três para trás? Quando teremos um chefe de Estado coerente, que faça um discurso maravilhoso uma vez e nunca mais fale sobre o assunto com tanto comprometimento e paixão?
Peço licença para Martin Luther King para dizer que eu tenho o sonho de que um dia o Brasil tenha uma população educada o suficiente para entender que as questões ambientais e as mudanças climáticas são, na verdade, temas de desenvolvimento e que devem ser prioridade para o país. Tenho o sonho de que o governante do país acate essa vontade do povo.
Eu tenho o sonho de que um dia eu não tenha que ler notícias como essa. Muitos podem dizer que as mudanças climáticas são muito complexas, mas o que dizer do saneamento básico? Não conseguiremos avançar, deixando para trás temas como esse.
Parabéns! Excelente posicionamento. Bom trabalho para você e para todos os Trackers.
PPaulo
excelente ! vc descreveu a atualidade politica deste pais e principalmente do posicionamento deste governo que promete,promete,mas não cumpre ……
O que foi Copenhague?
Acho que essa é a primeira questão que tem que ficar clara na cabeça de toda a humanidade. Não podemos esquecer que o que era pra ter sido e não foi e o que esperávamos muito menos.
COP 16 - Pra quê?
Se pensarmos bem, Copenhague foi uma catástrofe mundial. Um verdadeiro banho de água fria em quem pensava que íamos conseguir reverter um quadro crítico das mudanças climáticas. Toda a movimentação, expectativa, luta e coragem do movimento ambientalista mundial foi por água abaixo por um rio que ninguém ainda descobriu seu afluente. Uma frustração que nos coloca hoje em uma situação bem complicada e tensa. Pois até agora não chegamos e pelo visto nem iremos chegar a um acordo diplomático para que todo esse quadro se reverta. Daí a indagação sobre o que será a COP 16 e o por que ela deve acontecer é o que mais me intriga. Será que é válido gastarmos milhões em uma coisa que a gente já sabe que não vai chegar a lugar algum, melhor dizendo, a acordo algum.
Participação brasileira na COP 15
O que era esperado de nós - Governo e Sociedade Civil?
A sociedade lutou por anos por uma mudança nas políticas ambientais do país. Avançamos progressivamente no Governo Lula no que tange a política de mudanças climáticas. Na gestão Marina diante do Ministério do Meio Ambiente, pudemos constatar e ter a certeza de que muita coisa avançou, talvez não tenhamos avançado tanto como gostaríamos, mas avançamos. No período Carlos Minc diante do ministério podemos dizer que isso foi um caos. O que foi definido em 92 na Eco muita coisa se perdera durante sua gestão. A Educação Ambiental foi extinta do Ministério e a participação brasileira governamental nas negociações, sinceramente, achei que foi péssima.
Concordo com você quando fala do momento em que a Ex-Ministra Dilma se refere ao meio ambiente como uma ameaça ao desenvolvimento, certamente, querendo ela dizer isso ou não, não só pegou mal na hora como perdura nos meus ouvidos até hoje isso. E tê-la como Presidente do Brasil é um medo que tenho, apesar de concordar em boa parte com seu plano de governo e votar nela. Afinal, já que a Ex-Ministra Marina não levou, que seja alguém da esquerda do que da direita privatizando tudo né.
Não podemos deixar tudo como está. Temos que colocar a nossa juventude nas ruas e lutar por melhoras e por mais conscientização. Chega de ficarmos parados olhando o vento correr lá fora pensando que estamos protegidos aqui dentro.
Até quando ficaremos olhando tudo isso e de braços cruzados?