Sabedoria chinesa e algumas fotos
Posted on 04. Oct, 2010 by Juliana Russar in Brazil
Hoje, começou mais uma rodada de negociações de clima em Tianjin, China. E, nesses últimos seis dias antes da CoP-16, todos precisam de inspiração para agir e continuar acreditando que um consenso sobre temas fundamentais pode ser alcançado até novembro, em Cancún, dando fôlego à Convenção de Clima (UNFCCC) e restaurando a confiança no multilateralismo. Então, por que não buscar inspiração em provérbios chineses?
Logo no começo do dia, na entrada do suntuoso centro de conferência (fotos acima), havia a “Grande Muralha do Clima”, que foi carimbada pela secretária-executiva da Convenção de Clima, Christiana Figueres, com as palavras “com a determinação de todos, podemos vencer qualquer coisa”. Os murais que ilustram a muralha do clima estão repletos de fotos de pessoas que estão fazendo sua parte com relação ao combate às mudanças climáticas. Christiana disse: “Lidar com as mudanças climáticas não é apenas os governos tomarem as decisões que precisam tomar, é sobre cada um de nós ter a vontade de mudar o nosso comportamento em nossas vidas. E é também sobre todos nós decidirmos coletivamente sobre o tipo de carimbo que queremos deixar na parede da história humana. “
Depois, durante a cerimônia de abertura, Figueres citou Zhou Enlai, ex-premiê chinês que, para inspirar uma importante conferência multilateral em 1955, disse: “busquem pontos em comum, deixando de lado as diferenças” (se quiser ler o discurso inteiro dela, você pode clicar aqui). O porta-voz do grupo dos países menos desenvolvidos (LDCs) e representante de Lesotho também fez referência a um provérbio do filósofo da China antiga Lao Tsé: “até a jornada de mil milhas começa com um pequeno passo”.
Está claro que, apesar do pessimismo e baixas expectativas que rondam os centros de convenções pelo mundo onde acontecem as reuniões da UNFCCC, muitas pessoas e países não estão nem aí para esse baixo-astral e estão agindo. E temos que celebrar isso!
Tomemos como exemplo a China. É a primeira vez desde que acompanho as negociações que estas acontecem em um país-chave para o seu sucesso. Encaro isso com otimismo. A China é atualmente o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, tendo ultrapassado os Estados Unidos recentemente, que continua sendo o maior emissor histórico. É o maior consumidor de energia do mundo e fortemente dependente de carvão. A redução de suas emissões é essencial para que o aumento da temperatura média do planeta seja limitado em 2 graus centígrados, mesmo porque será um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas em virtude do derretimento do gelo do Himalaia que afetará a disponibilidade de água, dos impactos na agricultura, do aumento da ocorrência de eventos extremos e do aumento do nível do mar que ameaça Xangai, Hong Kong e Tianjin.
Ao mesmo tempo, a China é também um dos líderes na corrida dos mercados emergentes globais em busca de soluções energéticas inovadoras e tecnologias limpas e tornou-se recentemente líder mundial em energia renovável. Atualmente, investe US$ 9 bilhões por ano em energia limpa. É o maior produtor mundial de tecnologia solar fotovoltaica e o maior fabricante de turbinas eólicas. Seu investimento em usinas a carvão caiu 22% em 2008.
Assim como o Brasil, seu parceiro no ascendente grupo BASIC (formado também por África do Sul e Índia), a China é um país emergente que enfrenta o desafio de ter que reduzir suas emissões sem prejudicar os esforços de redução da pobreza. O conselheiro de estado da China, Dai Bingguo, disse hoje na abertura do encontro:
A China é um país em desenvolvimento com um rápido, mas ainda desequilibrado desenvolvimento. As cidades de Pequim, Tianjin e Xangai podem ser bastante desenvolvidas, mas o interior do país continua para trás. A China tem 1,3 bilhão de habitantes e seu PIB per capita ocupa a 100 º posição. Ainda temos dezenas de milhões de pessoas em situação de pobreza e, portanto, nós enfrentamos a árdua tarefa de fazer a economia crescer e melhorar a vida das pessoas. A China está numa fase de industrialização e da urbanização acelerada e sua demanda de energia ainda crescerá razoavelmente, portanto, nos deparamos com limitações significativas no controle das emissões de gases de efeito estufa. Mesmo assim, somos um país em desenvolvimento responsável. Para o bem do nosso próprio interesse de longo prazo e da humanidade, e, por causa da cooperação internacional para enfrentar as mudanças climáticas, a China anunciou a meta de controlar as emissões de GEE até 2020, pouco antes da conferência de Copenhague, ou seja, reduzindo as emissões de CO2 por unidade do PIB em 40 -45% com relações aos níveis de 2005, aumentando a proporção de combustíveis não-fósseis no consumo de energia primária a cerca de 15%, e aumentando a cobertura florestal em 40 milhões de hectares em relação ao nível de 2005 e o estoque florestal de 1,3 bilhões de metros cúbicos. Vamos atingir nosso objetivo por meio da reestruturação da economia, conservação de energia, melhoria da eficiência energética, desenvolvimento das energias renováveis e o aumento de sumidouros de carbono da floresta.
É cedo para dizer que a China é um verdadeiro líder no enfrentamento das mudanças climáticas, mas vemos que há uma movimentação para reduzir suas emissões. Finalizo meu post com mais um provérbio chinês: “Há quatro coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita, a vida passada e a oportunidade perdida.” A China pode perder essa oportunidade? E os outros países? E você?
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